sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Os porquês da Educação Financeira


Os porquês da Educação Financeira
Em 22 de dezembro de 2010, o governo federal editou o decreto nº 7.397, que instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira, com o objetivo de erradicar o analfabetismo financeiro no país


Para conhecer o perfil profissional e o trabalho da entrevistada, acesse: www.psicologiafinanceira.com.br

Sobre a Educação Financeira
O processo em si não é um modismo, mas um novo desafio global para governos, pais e escolas. Desenvolvido de forma mais intensa nos Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Austrália, Nova Zelândia e Coreia do Sul, no Brasil, só foi fortalecido no final de 2010 com a criação da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) pelo governo federal.
Com enfoque interdisciplinar e atrelado a seis eixos temáticos, que incluem Família, Diversidade, Sustentabilidade, Empreendedorismo, Autonomia e Cidadania que, por sua vez, dialogam com as linhas orientadoras da educação mundial no século 21 (Aprender a Ser, Aprender a Conviver, Aprender a Fazer e Aprender a Aprender), o tema perde a conotação estritamente matemática e se amplia em direção a uma abordagem comportamental, que trabalha, de forma simultanea, capacidades cognitivas, afetivas e sociais, sem mesclar ensino de técnicas nem macetes para administrar dinheiro. Mas tudo isso já é sabido, de tanto que foi divulgado. No entanto, ainda sobram muitas dúvidas, pois se a intenção é a de desenvolver uma nova geração sustentável financeiramente, conforme nos explica Patrícia de Rezende, esse trabalho não pode estar restrito apenas às escolas.

Guia Prático para professores de Ensino Fundamental I - Em países desenvolvidos, a educação financeira, praticamente, é restrita ao âmbito familiar. Por que no Brasil essa responsabilidade foi delegada às escolas?
Patrícia de Rezende – Justamente, porque aqui, em virtude da própria cultura nacional, as famílias não repassam os conceitos referentes à Educação Financeira às crianças. Assim, vejo como saudável que ela exista na escola, mas o que não pode acontecer é a restrição dela apenas às instituições de ensino.


Dica de leitura!
● Eu Preciso Tanto!
Quando Flávia leva para a escola os três celulares que ganhou de aniversário, tem início uma interessante discussão sobre a diferença entre “querer” e “precisar” de alguma coisa.
Autora: Shirley Souza
Ilustrações: Fábio Sgroi
Editora: Escala Educacional
Onde encontrar: www.escalaeducacional.com.br
Preço: R$ 21,90
EF - Considerando que a maioria das crianças brasileiras é oriunda de famílias cujo ganho somado alcança no máximo três salários mínimos, a exigência da Educação Financeira tem algum sentido significativo?
PR – Sim, porque o controle financeiro independe do quanto as pessoas ou famílias ganham. Quem não sabe lidar com um real, também não saberá com mil, dez ou um milhão... O que importa aqui não é o valor.

EF - A partir da teoria, o que as crianças vão acumular de prática?
PR – A prática vai depender muito do perfil do indivíduo ou, no caso, da criança. A teoria certamente não é a garantia de que eles consigam colocar em prática o que lhes foi ensinado. Daí a importância de envolver a família nesse processo, pois a forma como lidamos com o dinheiro vai muito além da matemática. Ela revela mais uma forma de nos expressarmos como pessoa.

EF - Além do analfabetismo financeiro, o tema poderá combater a miserabilidade mesmo que seja a longo prazo?
PR – Poderá, sim! Mas para isso acontecer, é necessário que, junto à Educação, também seja feito um trabalho de conscientização financeira, algo muito mais amplo, que envolva o próprio governo e as instituições financeiras.

EF - Os professores, que sempre reivindicam salários mais altos, estão preparados para ensinar uma disciplina que aparentemente não condiz com a realidade vivida por eles?
PR – Essa é outra questão que também levanto. Certamente, nossos professores esbarrarão em dificuldades, porque eles mesmos, ou a maioria, não tiveram nada referente à Educação Financeira em seus currículos. Portanto, outros profissionais deveriam ser envolvidos nesse processo. Economistas, por exemplo, poderiam ministrar os primeiros cursos dessa disciplina aos professores.
Os porquês da Educação Financeira
Em 22 de dezembro de 2010, o governo federal editou o decreto nº 7.397, que instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira, com o objetivo de erradicar o analfabetismo financeiro no país

Repasse aos pais
Crianças devem aprender que seus responsáveis não são caixas de banco, dos quais se pode sacar dinheiro a toda hora. Caso recebam mesadas, elas devem aprender a administrá-la. Por isso, nunca devem ter uma quantia adiantada antes do momento combinado, porque essa concessão esvazia a função de ensinar a viver dentro de um teto salarial.

"Saber lidar com finanças é tão essencial para o indivíduo quanto saber o mínimo necessário de cozinha para a própria sobrevivência. Mas, da mesma forma que, para tanto, não é preciso ser um chef de cuisine, também não é preciso ser economista para saber o caminho para se manter em equilíbrio financeiro"

EF - A disciplina realmente é essencial no contexto em que vivemos? Será que não haveria algo mais importante para ser ensinado no momento?
PR – Com certeza, é. Além disso, ensinar Educação Financeira, não impede de se trabalhar outros pontos.

EF - Quais as considerações que a senhora poderia fazer sobre a Educação Financeira em termos positivos e em termos negativos?
PR – Em termos positivos, saber lidar com finanças é tão essencial para o indivíduo quanto saber o mínimo necessário de cozinha para a própria sobrevivência. Mas, da mesma forma que, para tanto, não é preciso ser um chef de cuisine, também não é preciso ser economista para saber o caminho para se manter em equilíbrio financeiro. E é exatamente isso que um curso de Educação Financeira tem a oferecer: só ensinar o caminho. Já em relação aos pontos negativos, posso estar equivocada, mas, em todo caso, também coloco uma pergunta, pois, para mim educar financeiramente também é informar o cidadão dos impostos que ele paga. Logo, será de interesse das escolas conscientizarem seus alunos nesse sentido? Por isso, reafirmo que a Educação Financeira não pode ser restringida às escolas, ela tem e deve alcançar o âmbito familiar para obter o mínimo de êxito.


Dicas para aulas de Educação Financeira
Atividades lúdicas que envolvem compra e venda são ótimas opções para trabalhar noções de preço e economia. Nas séries iniciais, montar um pequeno mercado – com embalagens vazias e já etiquetadas com preço – com seus devidos funcionários e, depois, distribuir “dinheiro de papel” para que as outras crianças façam suas compras, pois isso estimula o interesse e o aprendizado infantil. Porém, após a brincadeira, dedique alguns minutos para mostrar que, se o objetivo é obter uma maior economia, há possibilidades de se fazer substituições de produtos semelhantes, em decorrência da comparação de preço.
Fonte: Guia Prático para Professores de Ensino Fundamental

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